segunda-feira, 2 de maio de 2016

Einar Wegener

Não podia pedir nada melhor, eu que adoro sentir-me livre em termos criativos e que faço de tudo para que isso aconteça. 
Foi-nos proposto pela professora Beatriz Batarda (foi a quarta vez que trabalhámos com ela no curso, repito que o meu ano teve tanta sorte!) que escolhêssemos uma figura marcante de qualquer época (querem mais liberdade criativa que isto?) O segundo passo seria escolher um determinado momento da vida dessa pessoa, e, a partir daí, criar uma cena e escrever um monólogo para ser interpretado por nós.
Sabia que queria aproveitar esta oportunidade para dizer algo ao Mundo (este tipo de pensamentos oriundos dos meus ingénuos dezoito anos...), abordando um tema tabu. Primeiramente, pensei em trabalhar a pedofilia, tratando-a como um impulso sexual que deveria ser reprimido (de um ponto de vista "compreensivo", dentro da irracionalidade que esta temática contém, portanto) ao retratar o pedófilo como alguém que tem obrigatoriamente de reprimir o que sente (pensemos na cena da Ninfomaníaca: Volume 2, de Lars Von Trier). Contudo, rapidamente me apercebi de que este tema era demasiado tabu através de várias conversas que tive com professores do curso e que nunca o poderia abordar de uma maneira consciente pois ainda não haviam sido feito estudos suficientemente esclarecedores para o conseguir fazer. 
Excluída a temática da pedofilia pensei em abordar a homossexualidade por também ser um tema tabu, porém, na Escola Profissional de Teatro de Cascais e na arte/no meio artístico em geral, esta é aceite e (felizmente!) é cada vez mais normalizada.
Ainda não tinha encontrado uma resposta para o meu problema. Depois de várias pesquisas em livros e na internet, e frustrada por saber o que queria fazer mas por não encontrar um tema que suportasse o meu desejo, resolvi ir dormir (talvez o sono me trouxesse a solução que eu tanto procurava...). Quando estava quase a adormecer, lembrei-me de um tema que parecia conter tudo o que eu queria colocar em palco: a transexualidade. Escrevi esta palavra no meu telemóvel e enviei a mensagem para mim própria de modo a não me esquecer da ideia que me surgira.
No dia seguinte acordei, e ao olhar para o telemóvel encontrara o meu próximo desafio artístico: interpretar um transexual.
Através de um livro que a minha tia (com quem vivia na altura) lera, encontrei o Einar Wegener, o primeiro transexual da História a submeter-se a uma cirurgia genital. Acabara por morrer durante a tentativa de implantação de um útero, com o objectivo de concretizar o seu grande sonho de ser mãe. Tinha encontrado a "personagem" que queria trabalhar neste módulo.

Meu querido Einar, nunca te esquecerei. Nem a ti nem a este maravilhoso exercício de despedida do terceiro ano de um curso que estava prestes a acabar.


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